“De Betanzos subimos até Bruma,
Na Casa Júlia fomos almoçar…
E no Albergue pernoitar,
Tockandar!!”
Era cedo, muito cedo quando descemos para tomar o pequeno-almoço… Mas ao contrário do que tinha acontecido em Ferrol, o pequeno-almoço servido no Hotel Garelos era realmente digno desse nome!! Pequeno-almocinho tomado, metemos animadamente os pés ao caminho, pelas ruas de Betanzos a fora…
Seguindo as setas e outras indicações colocadas no caminho, lá fomos nós calcorreando uma vez mais o alcatrão…
O tempo estava fresco, o que contribuía para o orvalhar da manhã sobre as flores… e as plantas…
E até as aranhas tinham embrulhado os tojos numa espécie de mantinhas por elas tecidas…
Deixámos então o alcatrão e entrámos no bosque… “Este é que é o caminho original!!”, dizia o anão Sabichão!! E com razão!!
A luz suave e difusa da manhã penetrava na folhagem do bosque, emprestando-lhe uma certa aura mística, que nos envolvia à medida que nos íamos embrenhando pelo bosque a dentro, deixando para trás a urbe e os seus característicos ruídos…
Também o nevoeiro nos envolvia a esta hora matutina… Lembrando o nome do nosso destino de hoje… Bruma.
E à medida que fomos caminhando por Cos, levantou-se o véu de bruma que cobria o bosque, deixando passar o sol da manhã, acordando tudo em seu redor… flores e animais…
De volta ao bosque, a malta caminha solta e animada… A paisagem é belíssima, o ritmo é bom e a companhia essa… é excelente!!!
E é nesta bucólica paisagem que o Zé Manel encontra um passarinho, meio perdido na estrada. Lá o apanha e tenta colocar de volta no ninho, só que o bicho persiste em voltar à estrada… No meio do tira-teimas ainda houve um ligeiro “bate-cu”, seguido de valentes gargalhadas… O pássaro foi colocado fora da estrada, em segurança e nós voltámos ao caminho…
Passamos pela Igreja de Leiro e a paisagem altera-se um pouco, tornando-se mais aberta e luminosa…
Mas pouco tempo depois, regressamos ao bosque, por entre sorrisos…
É que o trilho de hoje é particularmente belo… Talvez pelo facto de não passar por nenhuma cidade e ser só campo, torna o nosso caminho mais natural, mais fluido… E apesar do calor, temos a sombra, apesar do cansaço, temos a boa-disposição, apesar de caminharmos cada um com a sua “bagagem”, somos um grupo.
Continuamos, apreciando o trilho, a paisagem e a companhia… E apesar dos vários anúncios de táxis colocados em pontos estratégicos, ninguém cede à tentação…
Passo após passo, o caminho abre-se à nossa frente, deslumbrando-nos com os seus tons de verde…
E eis senão quando, ao virar da esquina encontramos a tão almejada Casa Júlia… O local onde iríamos parar para almoçar e descansar um pouco!! E realmente não há nada como a bela sandes de carne assada para reavivar os ânimos à malta!!!
E para acompanhar descobrimos uma nova bebida… A clara de lemón!!! Metade xurbeija gallega, metade sumo de limão, brindamos com alegria à boa disposição!!!
Energias repostas, regressamos ao caminho. São só 10km daqui até ao Albergue de Bruma… Mas são 10km sempre a subir… e bem!! Passamos a igreja de San Tomé de Vilacoba…
E a dada altura o Artur até se apercebe que algures no caminho já tinha perdido a barriguita… Oh pra ele aqui todo elegante!! :)
Subir, subir, subir… Upa, upa, que Bruma fica lá no cimo do monte… Olhando para trás, contemplamos a paisagem, num momento de pausa na subida… Há que repor líquidos e o fôlego… Pois está calor e o alcatrão não perdoa…
Mas em breve saímos do alcatrão e entramos novamente na sombra do bosque, onde aproveitamos para mais uma breve pausa com vista para o túnel de vegetação…
Passo a passo, aproximamo-nos cada vez mais do nosso destino… A paisagem é bucólica e rural…
E a 3km do albergue surge no topo do monte um maravilhoso telheiro… Aproveitamos a sua sombra para descansar uns momentos… E o Anão Sabichão troca de lugar com o Soneca, enquanto bate uma pequenina sesta!!
Liga-nos nesta altura o Carlos, Anão Feliz, já que hoje decidiu fazer a etapa a solo… Quando passámos na Casa Júlia, soubemos que ele já lá tinha estado havia 1h, bebera 1 cafezito e seguira viagem… Mas como dizia eu, o Carlos ligou-nos do tm do Sr. Benigno, o enérgico “albergueiro” de Bruma que já estava a ficar preocupado connosco. Metemos então novamente pés ao caminho e fazemos uma festa quando depois de cruzar um ribeiro encontramos a placa que diz só faltar 1km para o Albergue!!!
Estávamos nós a uns 200m do albergue quando vejo um velhote montado numa bicicleta a vir direito a nós… Era o Sr. Benigno que vinha ao nosso encontro… O homem era um autêntico furacão… Apesar da aparência algo frágil, quando começava a falar, levava tudo à frente… Organizou logo as dormidas, alocando-nos nos 8 beliches que havia no andar de cima…
E encomendou logo a comidinha para, pouco depois da banhoca, já estarmos a jantar… Eram 17h30!!
“Ai, meu Deus… Mas porque é que temos de jantar tão cedo?!”, perguntava o Zé Manel.
“E porque é que temos de ficar todos cá em cima e subir e descer escadas, quando há mais beliches cá em baixo?!”, indagava o Artur.
Bom, o que sucedia era que já havia um grupinho de 3 italianos que tinham ficado nos beliches em baixo… E o Sr. Benigno não querendo misturas, achou que ficaríamos melhor todos juntinhos a descansar lá em cima!! O senhor é que mandava ali e mais nada!! Agora a sério, é um personagem fantástico este senhor. Tem o albergue extremamente funcional, limpo e organizado e está sempre pronto para ajudar, levando inclusive os peregrinos na sua própria viatura à aldeia mais próxima para o que for preciso. Este tipo de dedicação é louvável!! E a ele estamos extremamente gratos!!
Enfim… Banhoca tomada e barriguinha cheia, a malta começou a descomprimir… E começou a chegar o João Pestana…
E depois claro… Deu nisto!!! Às 19h00 tava quase tudo na caminha a xonar…
Digo quase tudo, porque houve alguns que ainda foram para a rua molhar os pezinhos no ribeiro que passava mesmo ao lado do albergue…
Ui… ka fria!!! A gente nem percebia bem se estava a ser bom ou não… A água estava tão geladinha que já nem se sentiam as dores provocadas por 28km a calcorrear no alcatrão…
Bom, de pezinhos refrescados, voltámos ao albergue, onde o resto da malta entretanto despertara… Para nos adormecer, a Cremilde contou-nos uma história – de cu pra cima… e de cu pra baixo – e por entre muitas gargalhadas, acabámos por ir ter ao País dos Sonhos… Até amanhã…
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