“De Bruma foi a descer até Sigueiro,
E no bosque parámos pr’almoçar…
E no ribeiro os pés molhar,
Tockandar!!!”
Ui, que noite… Acordei de madrugada, com ronc-ronc em stéreo… Depois de quase ter caído do beliche abaixo (é o que dá ficar no andar de cima!!) ainda tentei fugir ao barulho… Mas na rua, apesar de haver silêncio, estava fresco, húmido e desagradável… Regressei ao beliche… O ronc-ronc tinha baixado o volume, mas em contrapartida andava agora um “assaltante” na cozinha de volta dos tachos e panelas do jantar da véspera… “Estarei a sonhar?”, pensei, acabando por adormecer para acordar momentos depois com a luz que entrava pelas janelas… Que noite!! “Grrrrr!!!”
Lá nos levantámos e equipámos, aproveitando o ar fresco da manhã para a foto de grupo em frente ao Albergue de Bruma que deixámos em busca do desayuno…
Lá fomos descendo a rua, em busca de um cafezito que estivesse aberto, onde adocicar os ânimos… Encontrámo-lo depois de passarmos a Igreja de Ardemil, seguida por uma estranha forma de arte,
Onde tractores parecem andar de carrossel e misturadoras de cimento se misturam com dinossauros, por entre uma panóplia de estátuas de Santiago e casais peregrinos… Estranho… Será mesmo este o caminho para Santiago?
Enfim, lá encontramos o cafézinho, onde paramos para uma animada pausa… E por entre tostas mistas e bolos de pacote, galões e sumos de melocotón e albaricoque, acabamos por descobrir 2 ingleses, comprovando que estávamos mesmo no Caminho Inglês!! ;)
Vinham como nós, meios esfaimados, à procura de pequeno-almoço, mas piores que nós, pois vinham com um escaldão imenso nas faces e nas pernocas. Lá metemos conversa com eles e ficámos a saber que são irmãos, que iniciaram o caminho na 6ªF (2 dias antes de nós) e que à medida que iam caminhando e se iam sentindo cansados, paravam e apanhavam um táxi; no dia seguinte voltavam de táxi ao ponto onde tinham parado na véspera e seguiam caminho… É uma forma de fazer as coisas…
Depois de 2 dedos e meio de conversa com eles, voltámos ao caminho, passando pela Igreja de San Payo de Buscás…
E logo depois deixamos o alcatrão para trás e entramos no bosque…
Vamos caminhando animadamente até que o Carlos dá o alarme e diz que já fizemos 100km desde o início!! Paramos então para fazer a festa e marcar o centésimo km do caminho inglês!!
E nessa altura os companheiros ingleses juntam-se a nós para a festa também!!!
Continuamos o caminho, nesta 4ª etapa, felizes… Mais de metade do caminho já está feito e o trilho de hoje até está a ser bem mais bonito do que inicialmente o prevíramos…
Despedimo-nos então dos irmãos ingleses, já que estavam a ter alguma dificuldade em acompanhar-nos, apesar de estarmos a gostar da sua companhia…
E continuamos pelo meio do bosque…
Entretanto já vão sendo horas de comer… E desviamo-nos então do caminho, em busca de um bom local para fazer o desejado piquenique!!
Caminhamos por um verde prado, pejado de flores e rodeado de árvores… E lá no meio encontramos o que procurávamos… Sombra e… o rio!
E depois de andarmos por ali alegremente a chapinhar, chega a hora de piquenicar e logo depois… descansar!!
Que bom que é poder repousar um pouco, à sombra das árvores, deixando-nos embalar pelo sussurro das folhas e o marulhar das águas do ribeiro… Que paz…
Mas o caminho espera por nós e chega a hora de a ele voltar… Malta, tockandar!!! Pelo meio do bosque marchar, marchar!!
Apesar das sombras faz bastante calor e é uma maravilha quando o Zé Manel pede um pouco de água numa casa próxima… É que como neste troço de caminho não se passa por nenhuma aldeia, as hipóteses de abastecimento são mínimas. Assim, esta água foi mesmo uma maravilha
E é já de ânimos refrescados e cantis bem recheados que partimos, para a recta final do caminho… Sim, uma recta, em estradão de 4km… Para ajudar a passar o tempo, eu e o Zé Manel fizemos um desafio de assobio, cantarolando músicas dos Beatles… E a recta passou-se muito bem!!
E finalmente, depois de uma recta de alcatrão, que nos pareceu interminável, chegamos a Sigueiro!!!
E após uma breve pausa à beira-rio, rumamos à Hospedaxe Mirás – a única alternativa de alojamento no local!! O melhor mesmo do sítio foi a clara de lemón com que brindámos à chegada!!
Com 2 casas de banho a dividir por nós, lá fizemos a escala das banhocas e depois de ficarmos bem cheirosinhos, equipámo-nos e fomos até à Igreja local pedir um carimbo!! Quando lá chegámos estava a missa a decorrer… E enquanto uns “oravam”, outros aproveitavam para descansar o esqueleto… E até a massagenzinhas nos pés houve direito!!
E enquanto a missa decorria, ainda houve tempo para plantar umas sementinhas de flores trazidas de Portugal… Talvez daqui a uns anos regressemos a Sigueiro e possamos observar se as sementes terão dado flor…
Bom, já de credenciais carimbadas, as barriguitas começaram a dar sinal… E lá fomos nós ao restaurante “El Cortés” celebrar mais uma etapa brilhantemente concluída!!
E por entre as maravilhosas e coloridas travessas de presunto, polvo e saladinhas, bem regadas com o Ribeiro (o tal que dá alegria o dia inteiro!!), houve ainda tempo para entoarmos - alto e bom som a nossa marchinha do Caminho, ali escrita numa toalha de papel, terminando o repasto com a boa da massagenzinha na cabeça!!
Depois do repasto, demos uma voltinha junto ao rio Tambre, para desmoer, ao mesmo tempo que nos abríamos numa flor de sorrisos em tons de azul…
E assim, sorridentes, regressámos à Hostal Mirás, para descansar antes da última etapa do caminho!!
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